Podem
me chamar de alienada, “desplugada” ou mesmo de antiquada, tanto faz, não ligo.
Continuo achando tremendamente estranho alguém se propor a fazer um tratamento
ou um atendimento psicoterápico apenas via internet.
Quando
li a respeito pela primeira vez pensei: “Talvez seja uma boa maneira solucionar
o problema de quem esteja doente ou com dificuldade momentânea de locomoção.”.
Depois,
observando com mais cuidado as notícias que surgiam, percebi que não estávamos
falando apenas de situações excepcionais, mas de um atendimento psicoterápico
virtual em substituição à psicoterapia convencional. Entrando em um site que
oferecia essa “nova terapia”, fiquei chocada ao ler que esta era mais econômica
em termos de valor das sessões e de tempo. Mas a maior vantagem apontada pelo
site em questão era a possibilidade de se ter um “terapeuta virtual portátil”,
já que ele poderia ir com você a qualquer parte do mundo, estando disponível
sempre que necessário.
Tudo
isso me causou um enorme sentimento de tristeza e decepção...
Nunca pensei
que a distância terapêutica que tantos defendem pudesse ir tão longe...
Na
minha cabeça, o que caracteriza a psicoterapia é _ como diz Yalon_ o encontro
de duas personalidades dispostas a discutir o problema de uma delas. É estar presente, terapeuta e paciente, é
conseguir chegar mesmo quando o trânsito e o coração não querem sair do lugar.
É enfrentar o olhar, é olhar-se. Para ser um verdadeiro terapeuta muitas vezes
é preciso ser firme, mas também é preciso se sensibilizar, não ter medo de se
aproximar e, a despeito de qualquer teoria, apoiar, abraçar.
Quanto
ao tempo, não acho que devemos economizá-lo, mas sim otimizá-lo. Até porque,
tempo não se economiza ele se gasta sozinho. Em terapia, o tempo significa
investimento em si mesmo e no processo terapêutico. Funciona como ferramenta de
mudança na medida em que, muitas vezes, temos que reorganizar nossa agenda,
enfrentar distâncias a fim de resgatar um espaço em nossa própria vida.
Não
vejo qualquer vantagem em ter um “terapeuta portátil”, ao contrário. O processo
terapêutico deve ser passageiro, não pretendendo criar dependências, mas sim
libertar o sujeito de suas próprias prisões.
Quantas
vezes ouvi pessoas arrasadas, ofendidas ou “quase deprimidas” porque ninguém
“curtiu” o que elas postaram no Facebook. Quantas vezes perguntei sobre a vida
social de um paciente e obtive como resposta: “ah, está tudo ótimo, afinal em
tenho 500 amigos no Face”. Quantas vezes vi situações como as do filme “Atração
Fatal” serem reeditadas de forma digital.
A Internet
é uma realidade e, como tal, pode ser tanto boa quanto ruim, dependendo do uso
que dela se faça. Acho fantástica a rapidez das informações, o acesso fácil ao
conhecimento científico e o reencontro de pessoas que fizeram parte de nossa
vida e que, sem os recursos da tecnologia, talvez não pudessem fazer parte do
nosso presente também. Mesmo assim, ela não substitui os reencontros, os
abraços e os amigos do mundo real. Ela é apenas mais uma ferramenta que a
tecnologia colocou ao nosso alcance para facilitar a vida, não para
substituí-la.
Não sou
contra os avanços tecnológicos, considero-os imprescindíveis. Não sou contra a
Internet, como já disse anteriormente. Não sou contra o Facebook (embora goste mais de Blogs, quando interessantes, é claro!), já que ele pode servir de ponto de encontro de
pessoas que não se viam há séculos. Não sou contra quem quer ter um milhão de
amigos virtuais, desde que não deixe de ter amigos reais.
Na
minha área, o que importa na maioria das vezes é a quantidade e não a qualidade
de um sentimento ou de um comportamento. Eu explico: todo mundo pode ficar um
pouco paranoico andando na linha vermelha depois de meia noite, todo mundo pode
sentir raiva, medo ou amor. O que realmente interessa é se esses sentimentos
e comportamentos ultrapassam a quantidade
ideal e levam ao sofrimento de quem os tem ou daqueles com quem ele convive.
Acho que para o caso da terapia virtual este conceito também é válido, desde
que a quantidade não ultrapasse a necessidade. Ou seja, que a terapia virtual
possa ser mais uma ferramenta de auxílio, quando a psicoterapia convencional não
puder ser realizada.
Enfim,
podem me chamar de antiquada, resistente ou “desplugada”, pouco importa. O que
realmente importa é pensarmos até que ponto nós estamos nos deixando levar pelo
imediatismo e comodismo da Internet. Pagamos contas, fazemos compras, falamos
com pessoas distantes.
O
processo terapêutico causa incômodo,exige esforços, além de muita coragem do
paciente. Mas que, pelo menos ali, sejamos reais e não seres virtuais.
Boa Semanaa todos!
Bjs :)
Flor de Maio
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