As Mulheres Sempre serão Flores em Qualquer Estação da Vida



As mulheres sempre serão flores em qualquer estação da vida!

Algumas são botões, outras estão começando a florescer.
Há aquelas que são promessas de cores esplêndidas e as que já não têm mais o viço do início da floração.
Há mulheres Margaridas, coloridas e leves.
Há as que são clássicas como as Rosas e as Palmas.
As mulheres despojadas são Flores do Campo.
As requintadas são Tulipas e as raras são Orquídeas.
As Flores-de-Maio, são resistentes, resilientes, rústicas, discretas. Dizem até que dão frutos. O que sei é que quanto mais se dividem, mais se multiplicam e florescem no outono.
Este Blog é de todas elas, porque

As mulheres sempre serão Flores em qualquer estação da vida!

Em tempo: os homens tambem são muito bem vindos!

Flor de Maio


Essas são as Mais Belas Flores desse Jardim!

As Mais Belas Flores do Meu Jardim

sábado, 8 de janeiro de 2011

Calçando os Próprios Sapatos




Li este conto dos Sapatinhos Vermelhos pela primeira vez no livro "As Mulheres que Correm com os Lobos", de Clarissa Pinkola Estés. Relendo-o agora vejo tantos outros significados que não pude perceber na ocasião...

Mas acho que é assim mesmo, lemos com o coração e não com os olhos. Hoje meu coração tem outro ritmo e outra visão da realidade.

Esta percepção me veio mais forte ainda no final do ano. Nesta época quase todas as emissoras de TV fazem a famosa "Retrospectiva Ano Tal", onde geralmente os acontecimentos mais impressionantes (leia-se terríveis) são novamente exibidos. Não sei, talvez esse tipo de programação seja feito com o propósito psicanalítico de Elaboração do Trauma, quem sabe?

Só sei que, enquanto a TV mostrava a "Retrospectiva 2010", eu fazia a minha própria retrospectiva. E aí vocês dirão:

_Grande coisa, quem não faz isso a cada fim de ano?

Eu. Eu nunca havia me preocupado em rever o ano que passei, nunca tinha me frustrado por aquilo que imaginei fazer e não fiz. Talvez por isso mesmo, nunca tenha entendido aquela depressãozinha que todo mundo diz que tem a cada fim de ano. Na minha cabeça, o que passou, passou. Disso tudo o que realmente me importava eram os aprendizados e os acertos, não os erros.

Mas, neste Réveillon...

Eu não fiz a Retrospectiva 2010, mas a retrospectiva da minha vida inteirinha!

Lembrei-me de cada detalhe, de cada sapatinho vermelho que confeccionei, antes de permitir que a vida me sugerisse sapatos mais sóbrios e eu conscientemente optasse por eles. Praticamente revivi os momentos nos quais estar com eles me deu imenso prazer, talvez até uma sensação de maturidade.

Mas ultimamente, tenho que confessar_ não sei se porque ando com os pés inchados por nunca tirá-los ou porque comecei a perceber que eles não combinam mais com meu estilo _ esses sapatos estavam ferindo muito os meus pés...

_E agora? Pensei.

A primeira alternativa que me veio, sendo uma mulher moderna, foi comprar sapatos reluzentes e bem vermelhos em uma boa loja do shopping. E lá fui eu. Cheguei a calçar vários modelos, todos lindos. Entretanto, quando dava mais que alguns passos ainda dentro da loja, percebia que não eram o que eu buscava. Da euforia que sentia ao olhá-los na vitrine ou nos pés de outras mulheres tão belos e perfeitos, eu passava rapidamente a frustração por não calçarem tão bem em mim. E logo me vinha a pergunta:

_O problema sou eu ou os sapatos?

Eu queria encontrá-los para a passagem do ano e, assim, continuei a minha busca frenética até os últimos minutos. Em função dessa correria toda, deixei até de cumprir com os meus rituais normais de fim de ano: faxinar a casa inteirinha, comprar os alimentos especiais para a ceia além de prepará-los sozinha, arrumar todos os armários da casa para finalmente terminar o dia completamente exausta.

Perceberam que eu só comentei aqui a arrumação do meu próprio armário de roupas?

Pois é, parei por aí. Nada de lavar cada copo, cada louça. Nada de limpar paredes, pintar a casa, escolher roupas especiais. Deleguei tudo o que pude para a minha secretária do lar e não verifiquei nada do que ela fez. Eu não tinha tempo. Eu só pensava em encontrar meus sapatos vermelhos!

Passei o fim de ano descalça, pois percebi que tenho que reaprender a confeccionar meus próprios sapatos vermelhos. Como? Não tenho a menor idéia.

Sei que passarei por momentos de irritação, frustração e até mesmo de revolta por não ter mais a habilidade que tinha quando fiz eu mesma meus primeiros sapatinhos vermelhos. Não posso pedir a ajuda de ninguém para criá-los, porque só me servirão se sua autoria for completamente minha.

Eles não serão em nada iguais aos primeiros, estou certa. Mas também acho que não me cairiam bem. A moda já não é a mesma e a minha idade também...

Respirei fundo nos primeiros momentos do novo ano e comecei a criação dos meus novos sapatos. Ainda estou no estágio de rabiscar e testar qual o modelo será o melhor, mas sei que com esse pequeno passo já começo a me recriar.

Os Sapatinhos Vermelhos





O conto a seguir, foi retirado do livro "Mulheres que Correm com os Lobos" de Clarissa Pinkola Estés, escritora e analista junguiana:

 
Era uma vez uma pobre órfã que não tinha sapatos. Essa criança guardava os trapos que pudesse encontrar e, com o tempo, conseguiu costurar um par de sapatos vermelhos. Eles eram grosseiros, mas ela os adorava. Eles faziam com que ela se sentisse rica, apesar de ela passar seus dias procurando alimento nos bosques espinhosos até muito depois de escurecer.

Um dia, porém, quando ela vinha caminhando com dificuldade pela estrada, maltrapilha e com seus sapatos vermelhos, uma carruagem dourada parou ao seu lado. Dentro dela, havia uma senhora de idade que lhe disse que ia levá-la para casa e tratá-la como se fosse sua própria filhinha. E assim lá foram elas para a casa da rica senhora, e o cabelo da menina foi lavado e penteado. Deram-lhe roupas de baixo de um branco puríssimo, um belo vestido de lã, meias brancas e reluzentes sapatos pretos. Quando a menina perguntou pelas roupas velhas, e em especial pelos sapatos vermelhos, a senhora disse que as roupas estavam tão imundas e os sapatos eram tão ridículos que ela os jogara no fogo, onde se reduziram a cinzas. A menina ficou muito triste, pois, mesmo com toda a fortuna que a cercava, os modestos sapatos vermelhos feitos por suas próprias mãos haviam lhe dado uma felicidade imensa. Agora, ela era obrigada a ficar sentada quieta o tempo todo, a caminhar sem saltitar e a não falar a não ser que falassem com ela, mas uma chama secreta começou a arder no seu coração e ela continuou a suspirar pelos seus velhos sapatos vermelhos mais do que por qualquer outra coisa.

Como a menina tinha idade suficiente para ser crismada no dia do sacramento, a senhora levou-a a um velho sapateiro aleijado para que ele fizesse um par de sapatos especiais para a ocasião. Na vitrina do sapateiro havia um par de lindíssimos sapatos vermelhos do melhor couro. Eles praticamente refulgiam. Pois, apesar de sapatos vermelhos serem escandalosos para se ir à igreja, a menina, que só sabia decidir com seu coração faminto, escolheu os sapatos vermelhos. A vista da velha senhora era tão fraca que ela, sem perceber a cor dos sapatos, pagou por eles. O velho sapateiro piscou para a menina e embrulhou os sapatos.

No dia seguinte, os membros da congregação ficaram alvoroçados com os sapatos da menina. Os sapatos vermelhos brilhavam como maçãs polidas, como corações, como ameixas tingidas de vermelho. Todos olhavam carrancudos. Até os ícones na parede, até as estátuas não tiravam os olhos reprovadores dos sapatos. A menina, no entanto, gostava cada vez mais deles. Por isso, quando o bispo começou a salmodiar, o coro a cantarolar, o órgão a soar, a menina não achou que nada disso fosse mais belo que os seus sapatos vermelhos.

Antes do final do dia, a velha senhora já estava informada dos sapatos vermelhos da sua protegida

.— Nunca, nunca mais use esses sapatos vermelhos! — ameaçou a velha. No domingo seguinte, porém, a menina não conseguiu deixar de preferir os sapatos vermelhos aos pretos, e ela e a velha senhora caminharam até a igreja como de costume.

À porta do templo estava um velho soldado com o braço numa tipóia. Ele usava uma jaqueta curta e tinha a barba ruiva. Ele fez uma mesura e pediu permissão para tirar o pó dos sapatos da menina. Ela estendeu o pé, e ele tamborilou na sola dos sapatos uma musiquinha compassada que lhe deu cócegas nas solas dos pés.— Lembre-se de ficar para o baile — disse ele, sorrindo e piscando um olho para ela. Mais uma vez, todos lançaram olhares reprovadores para os sapatos vermelhos da menina. Ela, no entanto, adorava tanto esses sapatos que brilhavam como o carmim, como framboesas, como romãs, que não conseguia pensar em mais nada, que mal prestou atenção no culto. Estava tão ocupada virando os pés para lá e para cá para admirar os sapatos que se esqueceu de cantar.

— Que belas sapatilhas! — exclamou o soldado ferido quando ela e a velha senhora saíam da igreja.

Essas palavras fizeram a menina dar alguns rodopios ali mesmo. No entanto, depois que seus pés começaram a se movimentar, eles não queriam mais parar; e ela atravessou dançando os canteiros e dobrou a esquina da igreja até dar a impressão de ter perdido totalmente o controle de si mesma. Ela dançou uma gavota, depois uma csárdás e saiu valsando pelos campos do outro lado da estrada. O cocheiro da velha senhora saltou do seu banco e correu atrás da menina. Ele a segurou e a trouxe de volta para a carruagem, mas os pés da menina, nos sapatos vermelhos, continuavam a dançar no ar como se ainda estivessem no chão. A velha senhora e o cocheiro começaram a puxar e a forçar, na tentativa de arrancar os sapatos vermelhos dos pés da menina. Foi um horror. Só se viam chapéus caídos e pernas que escoiceavam, mas afinal os pés da menina se acalmaram.

De volta à casa, a velha senhora enfiou os sapatos vermelhos no alto de uma prateleira e avisou a menina para nunca mais calçá-los. No entanto, a menina não conseguia deixar de olhar para eles e ansiar por eles. Para ela, eles eram o que havia de mais lindo no planeta.

Não muito tempo depois, o destino quis que a velha senhora caísse de cama e, assim que os médicos saíram, a menina entrou sorrateira no quarto onde eram guardados os sapatos vermelhos. Ela os contemplou lá no alto da prateleira. Seu olhar tornou-se fixo e provocou nela um desejo tão forte que a menina tirou os sapatos da prateleira e os calçou, na crença de que eles não lhe fariam mal algum. Só que, no instante em que eles tocaram seus calcanhares e seus dedos, ela foi dominada pelo impulso de dançar.

E saiu dançando porta afora e escada abaixo, primeiro uma gavota, depois uma csárdás e em seguida giros arrojados de valsa em rápida sucessão. A menina estava num momento de glória e não percebeu que enfrentava dificuldades até que teve vontade de dançar para a esquerda e os sapatos insistiram em dançar para a direita.

Quando ela queria dançar em círculos, os sapatos teimavam em seguir em linha reta. E, como eram os sapatos que comandavam a menina, em vez do contrário, eles a fizeram dançar estrada abaixo, atravessar os campos enlameados e penetrar na floresta soturna e sombria.

Ali, encostado numa árvore, estava o velho soldado de barba ruiva, com o braço na tipóia e usando sua jaqueta curta.
— Puxa — disse ele —, que belas sapatilhas!

Apavorada, a menina tentou tirar os sapatos, mas por mais que os puxasse, eles continuavam firmes. Ela saltava primeiro num pé, depois no outro, para tentar tirá-los, mas o pé que estava no chão continuava dançando assim mesmo e o outro pé na sua mão também fazia seu papel na dança.

E assim, ela dançava e dançava sem parar. Por sobre os montes mais altos e pelos vales afora, na chuva, na neve e ao sol, ela dançava. Ela dançava na noite mais escura, no amanhecer e continuava dançando também ao escurecer. Só que não era uma dança agradável. Era terrível, e não havia descanso para a menina.

Ela entrou no adro de uma igreja e ali um espírito guardião não quis permitir que ela entrasse.

— Você irá dançar com esses sapatos vermelhos — proclamou o espírito — até que fique como uma alma penada, como um fantasma, até que sua pele pareça suspensa dos ossos, até que não sobre nada de você a não ser entranhas dançando. Você irá dançar de porta em porta por todas as aldeias e baterá três vezes a cada porta. E, quando as pessoas espiarem quem é, verão que é você e temerão que seu destino se abata sobre elas. Dancem, sapatos vermelhos. Vocês devem dançar.


A menina implorou misericórdia mas, antes que pudesse continuar a suplicar, os sapatos vermelhos a levaram embora. Ela dançou por cima das urzes, através dos riachos, por cima de cercas-vivas, sem parar. Ainda dançava quando voltou à sua antiga casa e viu pessoas de luto. A velha senhora que a havia abrigado estava morta.

Mesmo assim, ela passou dançando. Dançava porque não podia deixar de dançar. Totalmente exausta e apavorada, ela entrou dançando numa floresta onde morava o carrasco da cidade. E o machado na parede começou a tremer assim que pressentiu que ela se aproximava.

— Por favor! — implorou ela ao carrasco quando passou pela sua porta. — Por favor, corte fora meus sapatos para me livrar desse destino horrível.

O carrasco cortou fora as tiras dos sapatos vermelhos com o machado, mas os sapatos não se soltaram dos pés da menina. Ela se lamentou, então, dizendo que sua vida não valia mesmo nada e que ele deveria amputar-lhe os pés. Foi o que ele fez.

Com isso, os sapatos vermelhos com os pés neles continuaram dançando floresta afora e morro acima até desaparecerem. A menina era, agora, uma pobre aleijada e teve de descobrir um jeito de sobreviver no mundo trabalhando como criada. E nunca mais ansiou por sapatos vermelhos.