As Mulheres Sempre serão Flores em Qualquer Estação da Vida



As mulheres sempre serão flores em qualquer estação da vida!

Algumas são botões, outras estão começando a florescer.
Há aquelas que são promessas de cores esplêndidas e as que já não têm mais o viço do início da floração.
Há mulheres Margaridas, coloridas e leves.
Há as que são clássicas como as Rosas e as Palmas.
As mulheres despojadas são Flores do Campo.
As requintadas são Tulipas e as raras são Orquídeas.
As Flores-de-Maio, são resistentes, resilientes, rústicas, discretas. Dizem até que dão frutos. O que sei é que quanto mais se dividem, mais se multiplicam e florescem no outono.
Este Blog é de todas elas, porque

As mulheres sempre serão Flores em qualquer estação da vida!

Em tempo: os homens tambem são muito bem vindos!

Flor de Maio


Essas são as Mais Belas Flores desse Jardim!

As Mais Belas Flores do Meu Jardim

domingo, 5 de dezembro de 2010

Ouvidos de Abano




Conversando com minha filha um dia desses, um comentário seu ficou ressoando em meus ouvidos:

"Mãe, eu costumo escutar os problemas de todos os meus amigos e faço isso com carinho. Porque então que ninguém parece querer me escutar quando preciso desabafar?"

Não sei se é genético, acredito que não. Mas o fato é que, tanto ela quanto eu, parecemos ter "ouvidos de abano", enormes, daqueles que se enxerga a longa distância...

Quando minha filha era pequena e eu ia buscá-la na casa de alguma amiguinha, na saída, inevitavelmente, sem que eu perguntasse qualquer coisa ou tivesse grande intimidade com a mãe em questão, acontecia a sessão de desabafo. E aí eram desfiados os mais diversos problemas, da empregada que não estava fazendo seu serviço corretamente até questões bem íntimas da família. Geralmente eu percebia que a intenção não era trocar idéias, ouvir conselhos ou respostas ao que estava sendo dito, mas sim apenas falar, falar e falar. Com o tempo, e a infância é um período longo, aprendi que minha função ali era apenas ouvir, ouvir e ouvir amorosamente aquela pessoa que provavelmente não tinha com quem falar.

Sinto que isso sempre foi assim. Na minha infância, adolescência, juventude e também agora na meia idade, meus ouvidos sempre estiveram e continuam receptivos, abanando por aí...

Geralmente, quando entro em um taxi de repente o motorista, depois de um comentário banal sobre o tempo ou sobre o engarrafamento, começa a me contar tudo sobre sua vida, sem que eu tenha dado qualquer espaço para isso. Quando estou em uma fila de banco e alguém vira para trás e reclama do atendimento, já sei que este é o sinal de que a estória não vai parar por aí. Às vezes chega até a ser engraçado. Em uma dessas ocasiões, uma senhora de uns sessenta anos cumpriu todo o ritual inicial e quando se sentiu íntima  o suficiente me disse:

_ Sabe de uma coisa minha filha, quando você não se cuida e olha primeiro para si mesma, acaba como eu... Eu estou sempre querendo agradar marido e filhos: faço seus pratos favoritos, cuido para que estejam com suas roupas bem passadas, pago as contas e, no meio disso tudo, ainda tento ser mãe e esposa amorosa. Sabe o que acontece?

_Não. Respondi. E, se me lembro bem, essa foi a segunda e a última palavra que ela me permitiu pronunciar.

E ela continuou:

_ No fim do dia eu acabo me sentindo "A Escrava Exausta" (em referencia a uma novela que era exibida na época que se chamava "A Escrava Isaura").

Nesse meio tempo, graças a Deus a fila andou e ela foi chamada para o caixa que estava livre, pois tive que me conter muito para não rir do seu aparente senso de humor. Mas guardei sua expressão e costumo usá-la de quando em vez até hoje.

No entanto, meus "ouvidos de abano", não funcionam só com desconhecidos na rua ou com pessoas que, apesar de estarem no meu dia a dia, não me são verdadeiramente íntimas. Com pouquíssimas exceções, também costumo escutar os problemas de meus amigos com muito carinho, sem julgamento e com muita atenção, mas raramente sou ouvida nos meus momentos difíceis.

Lembro-me de que quando o meu pai faleceu, depois de me ver consolando o médico que deu a notícia, desisti de atender os telefonemas de pêsames, já que acabava acalmando as pessoas que teoricamente deveriam estar me confortando.

Tenho duas grandes amigas, uma de infância e outra que conheci já casada. Outro dia ouvi de uma delas que, como passei muito tempo sem telefonar, ela sabia que eu devia estar com problemas. É verdade, geralmente quando estou com problemas tendo a me "encaramujar", a fim de tentar resolvê-los ou pelo menos aceitar a convivência com eles caso não encontre nenhuma solução naquele exato momento. Eu nunca tinha percebido que agia assim. Agora vejo que essa atitude deve ser uma defesa que construí ao longo dos anos, quando sinto que não tenho condições de consolar ninguém e ao mesmo tempo calar sobre o que estou sentindo.

Como minha filha, eu também gostaria de uma troca de vez em quando. Ouvir que aquele momento ruim vai passar logo, mesmo que seja uma mentira carinhosa, usada apenas para me dar força. Afinal, tudo um dia passa, não é mesmo?

Não consigo acreditar que as questões existenciais de qualquer ser humano sejam o resultado da atitude de alguém. Na minha verdade, são conseqüências do comportamento dele mesmo. Por isso e a partir do comentário da minha amiga, sei que posso continuar ouvindo sem que precise calar o que sinto, só depende de mim.

Não sei se o que descobri a meu respeito se aplicaria também a minha filha. Por mais que eu me identifique com seus momentos solitários, o que posso fazer por ela é muito pouco na visão de qualquer mãe: ouvir, conversar, estar disponível e dar colo quando ela pedir. Como Khalil Gibran disse: "Sois os arcos dos quais seus filhos, como flechas vivas, são arremessados". Portanto, ao menos racionalmente, sei que a solução sempre será dada por ela.

Quanto a mim, a plástica para a correção dos meus "ouvidos de abano", já está nos meus planos. Pretendo torná-los mais proporcionais a minha boca.

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