Essas imagens são de um cartão de Natal que recebi de meu pai.
Essa época do ano, Natal principalmente, deixa muita gente triste. Tem gente até que diz que não gosta de Natal.
Na minha casa, Natal sempre foi uma festa muito comemorada. Nada parecido com a propaganda da Sadia, aquela com a família em torno da mesa (quero dizer do peru) e muito menos com uma árvore tradicional de pinheiro. Nossa festa começava bem antes, quando minha mãe começava a inventar qual seria a nossa árvore daquele ano. É isso mesmo, a cada ano uma árvore diferente era feita por nós, como um presente surpresa para o aniversariante do dia. Fizemos árvores incríveis!
Quando eu tinha uns sete anos, passamos quase um mês confeccionando pompons de lã colorida de todos os tamanhos, que seriam depois presos em uma armação de ferro com uns dois metros de altura, envolvida por um aramado furadinho. Entre os pompons piscavam as luzes tradicionais de qualquer árvore de Natal, aquelas redondinhas, lembram?Essa mesma armação foi suporte para margaridas de papel cartão forrado com feltro de muitas cores, flores artificiais de seda, pingentes de vidro em forma de gota, enfeites de acrílico, laços de todos os tamanhos e outras tantas decorações que não me lembro agora.
Na minha infância, a reunião para a confecção da árvore era o que eu mais gostava. Éramos três na função: minha mãe, minha babá Helga (um anjo que carrego em meu coração até hoje) e eu que, na época, ainda não podia ser considerada uma pessoa inteira em termos de força de trabalho. Como as invenções de minha mãe eram trabalhosas, tínhamos que nos reunir praticamente todas as noites. E, enquanto eu aprendia a fazer pompons ou a recortar aquele papel cartão azul plastificado e muito duro para depois colar o feltro formando as margaridas, ouvia histórias de vida e de natal. Acho que este era o momento mais especial do final de ano para mim. Ali, em meio a tesouras, linhas, colas e feltros, eu sentia claramente o que chamam de "Espírito de Natal".
Como sou filha única, além dos poucos tios e primos (que eram muito mais velhos que eu), os convidados eram na sua grande maioria amigos de meus pais com seus filhos. Como esse era um tempo de "vacas gordas", todos que vinham a nossa casa recebiam presentes. Nossa noite de Natal era muito animada com muita música e dança também.
Mesmo depois de casada, a animação de Natal continuou. Não tínhamos mais as reuniões para a confecção da árvore, talvez porque eu morasse longe e tivesse agora uma família para cuidar. Mas a alegria continuou a mesma e minha filha pode participar de algumas dessas ocasiões.
Minha mãe costumava dizer que uma noite de Natal tradicional, acaba sendo triste porque ao invés de nos lembrarmos de quem está nascendo de novo em nossos corações, focamos nossos sentimentos naqueles que se foram e agora estão mais perto do aniversariante.
O tempo passou, as "vacas emagreceram" bastante, muitos dos que compartilhavam da nossa festa se foram, inclusive meu pai. Hoje compreendo completamente o que minha mãe queria dizer...
Nosso Natal mudou, é verdade. Não acontece mais aquela festa enorme e barulhenta. Mas minha mãe continua firme. Embora tenha se rendido a uma decoração mais convencional, ela faz questão de enfeitar a casa, armar o presépio e fazer o almoço de Natal.
A festa do dia 24 foi substituída por uma pequena reunião familiar em minha casa, quando a mesa é arrumada para o Evangelho no Lar. Geralmente lemos uma mensagem de Natal psicografada por Chico Xavier e trechos do Evangelho escolhidos ao acaso que são comentados depois. Esse é o dia que reservamos para preservar o Espírito de Natal, tão esquecido no tumulto do nosso dia-a-dia. Neste dia, lembramos dos nossos queridos que já se foram com a certeza que eles estarão em festa também e focamos nossos corações no aniversariante.
O que fazíamos devagarzinho na minha infância durante os preparativos da festa foi condensado e transformado em um momento diferente. Não tão lúdico quanto antes, reconheço. Mas ainda nos reunimos para que, juntos, possamos confeccionar em uma única noite o presente que desejamos oferecer todos os dias para Jesus: o nosso amor.
Feliz Natal a todos!
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